O Papel Educativo dos Média
Ontem, esta capa da revista Focus atraiu-me a atenção. Para além da capa, que acho infeliz, apesar de perceber que certamente ajudará as vendas, considero a escolha de palavras para a mesma igualmente infeliz: "Suicídio de Jovens - A Net Mata". Este tipo de título ajuda a perpetuar a ideia de que a Internet é um perigo, quando esta na realidade é inócua. A Internet, em si, não é boa, nem má. O tipo de uso que nós e os outros lhe damos é que pode ser perigoso. Mas OK. Tomo por barato que os jornalistas e até os leitores da Focus sabem que é assim. No entanto, a questão é, e todos aqueles que apenas vêm a capa exposta nos quiosques, e cuja literacia dá para pouco mais do que ler a capa, quanto mais usar a Internet? Mas provavelmente os filhos usam-na ou querem usar. Esta capa, voluntária ou involuntariamente, é mais uma "preciosa ajuda" para que esses pais não deixem ou não queiram que os seus filhos usem a Internet. Mas para além da foto e do título, os bullet points que os acompanhavam, chamaram-me igualmente a atenção:
- "Os casos dos jovens que se mataram"
- "Especialistas explicam quais são os sinais de alerta"
- "Como evitar que as crianças corram perigos na rede"
Acho da máxima importância que os meios de comunicação social abordem os fenómenos relacionados com a exposição sexual de crianças e jovens através da Internet. O mesmo acontece relativamente à problemática do suicídio. E acho que estes temas não têm sido abordados convenientemente pela sociedade portuguesa. No seu todo. Por isso, quando tive a oportunidade de o fazer nos meios de comunicação social, em 2003, comecei a escrever sobre o assunto. Por isso, lancei o Projecto MiudosSegurosNa.Net em 2004. Por isso, sempre que solicitado, não deixo de colaborar com os média no que toca a este assunto. Acho que não deve haver assuntos tabu. E este foi, até há bem pouco tempo, um assunto quase tabu. Acho mesmo que os média podem desempenhar um papel educativo da maior importância. Sobretudo em Portugal, como atestam os resultados do último Eurobarómetro dedicado ao tema. De facto, segundo este estudo, 68% dos pais portugueses cujos filhos usam a Internet sentem que precisam de mais informação sobre como proteger as crianças do seu agregado familiar de conteúdos e contactos ilegais ou nocivos na Internet. Destes, 33% gostaria de receber essa informação pela TV, rádio e jornais. Será preciso dizer mais?!
Agora, essa informação tem de ser fornecida de forma responsável. Sobretudo quando o tema abordado é o suicídio. E aí sou de opinião que abordar estes temas da forma como o DN e a Focus o fizeram é contraproducente. Sobre a abordagem do DN, já me referi no artigo "Os Média e a Segurança de Crianças e Jovens na Internet". Já o tinha acabado de escrever quando vi a Focus. Daí esta entrada no blogue. À Focus e a todos os jornalistas potencialmente interessados em abordar o tema do suicídio, seja na Net ou fora dela, deixo duas referências que podem ser úteis:
- O Suicídio - Respostas a Questões Frequentes (PDF - 58KB)
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