Internet Segura Para Crianças
Na passada sexta-feira, 10 de Agosto, foram divulgados os resultados do estudo "Eurobarometer on Safer Internet for Children: qualitative study 2007". Este é um estudo qualitativo pan-europeu, cobrindo 29 países europeus (27 da UE, Islândia e Noruega), resultante de entrevistas extensas a grupos de crianças de 9-10 anos e 12-14 anos sobre o uso de tecnologias online tais como a Internet e os telemóveis, assim como sobre como percepcionam e lidam com os riscos associados à utilização das mesmas.
O estudo, encomendado pelo Direcção-Geral da Sociedade de Informação e Média da União Europeia, foi levado a cabo pela OPTEM e pelos seus parceiros europeus. Os objectivos deste estudo foram os de melhorar o conhecimento sobre:
- A utilização da Internet e dos telemóveis por crianças
- Os seus comportamentos online
- As suas percepções dos riscos e de questões relacionadas com a segurança
Os resultados deste estudo serão usados como contributos para a construção do Programa Por Uma Internet Mais Segura e para aumentar o impacto de acções que visem aumentar a sensibilização para estes temas.
Tratando-se de um estudo qualitativo resultante de grupos de discussão, torna-se difícil - mas não impossível - estabelecer comparações entre os diversos países. À falta de estudos quantitativos semelhantes em Portugal, seria assim interessante o desenvolvimento de estudos futuros que permitissem uma comparação de resultados a nível europeu. Por outro lado, o número de participantes - em Portugal totalizaram 30 jovens entrevistados em Lisboa - aconselha prudência na extrapolação destes resultados para o todo nacional. Assim, estes resultados parecem-me apenas relevantes para os grupos de jovens inquiridos e para os fins enunciados acima.
Mas ainda assim, os resultados merecem uma leitura atenta, para se ficar com uma ideia da realidade portuguesa. Para além das ressalvas acima, um dos aspectos que me chamou à atenção foi a total ausência de referências às redes sociais. Um dos aspectos curiosos dos resultados tem a ver com as diferenças ao nível da utilização entre rapazes e raparigas e o facto destas referirem espontâneamente mais problemas e riscos. Outro aspecto que me surpreendeu foi o facto dos jovens referirem a utilização de fontes múltiplas de informação e não apenas da Internet, como forma de se assegurarem da fiabilidade da informação. Este aspecto surpreende-me porque outros estudos - não relativos à realidade portuguesa, porque são inexistentes - indicam exactamente o contrário, e o contrário é também a percepção que tenho de conversas com jovens, pais e professores. Este aspecto, associado ao facto do estudo referir que os jovens portugueses estão cientes dos riscos e que estes são de conhecimento generalizado por parte de pais e professores, levam-me a questionar se os jovens inquiridos não "padecerão" daquilo a que chamo a "síndroma do Homem-Aranha", isto é, acham que dominam as teias da rede e que são imunes aos riscos. Essas coisas só acontecem aos outros. Mas da minha experiência, quando confrontados com situações concretas, percebem que afinal são tão vulenráveis quanto os outros. A título de exemplo, fazem "downloads ilegais" porque julgam que ficam escondidos pelo anonimato, mas ficam surpreendidos quando se lhes diz que ao fazerem-nos podem ser identificados através do seu endereço IP. Ao nível dos downloads o estudo vem demonstrar como a estratégia de combate aos "downloads ilegais" que tem sido seguida está errada. Torna-se demasiado evidente que a estratégia do "medo" não resulta e parece-me já ser tempo da indústria apostar na educação em torno das questões éticas associadas a este fenómeno. Ou seja, os aspectos relacionados com a propriedade intelectual, em detrimento dos aspectos criminais.
Quem tiver interesse em aprofundar o assunto, poderá aceder aos relatórios do estudo a partir desta página. Nesta página encontrarão o comunicado de imprensa, o relatório geral e os relatórios específicos relativos a cada um dos países.