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Miúdos Seguros Na Net - Promover a Segurança de Crianças e Jovens na Internet

Minimizar Riscos, Maximizar Benefícios.

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Regulação das Redes Wireless em Escolas

Tito de Morais, 27.09.12
Imagem com o símbolo

Na sequência da subscrição da email newsletter do site do Projecto MiudosSegurosNa.Net, recebi uma mensagem com a seguinte pergunta:

 

Aproveito para lhe perguntar se existe algum normativo referente à utilização de redes wireless em espaços escolares. Tem-se generalizado a rede wireless, sendo cada vez maior o número de áreas com “campos de wireless” para um acesso mais célere à “sociedade da informação, em escolas e universidades...

 

Encontrei um site sobre o assunto WiredChild, com elementos interessantes (ver PDFs anexos, aqui e aqui), e com a indicação de que nalguns países da União Europeia existe regulamentação neste domínio. Gostaria de saber qual o tratamento que este tema tem vindo a merecer em Portugal, desde logo, por parte do Ministério da Educação, se existe alguma proibição, etc.

 

Agradecendo, desde já, a sua ajuda, subscrevo-me com os meus cumprimentos e os votos de uma boa semana.

 

Eis a resposta a esta pergunta:

 

A questão dos efeitos nocivos das ondas de rádio-frequência produzidas pelos telemóveis e pelas redes wireless é daqueles temas que pontualmente surge um estudo a dizer uma coisa e pouco depois outro a dizer o contrário.


A questão coloca-se com mais acuidade nos telemóveis, em resultado da maior proximidade do telemóvel do cérebro. Na redes wireless, a questão não se coloca com tanta acuidade, dado que a proximidade do cérebro relativa aos dispositivos emissores/recetores não ser tão grande. Outra fonte de preocupação são as antenas de distribuição de sinal de rede das operadoras móveis.

 

Amiúde, surgem organizações como as autoras dos documentos que me envia e outras referidas nos mesmos (tais como esta e esta), cuja missão é sensibilizar para este tipo de riscos.

 

Relevante é o facto da Organização Mundial de Saúde (OMS) se ter pronunciado sobre o assunto, passando a considerar os campos eletromagnéticos produzidos pelos telemóveis como potencialmente cancerígenos para os seres humanos. Veja a informação fornecida pela OMS, pela International Agency for Research on Cancer (IARC) - o organismo da OMS que classificou a radiofrequência dos campos eletromagnéticos, incluindo aquela proveniente de telefones sem fios, como sendo possivelmente cancerígenos para os humanos – e também pelo National Cancer Institute at the National Institutes of Healthdos Estados Unidos da América. Deste último, ver também este documento.

 

No entanto, o estudo mais recente de que tenho conhecimento tem outra perspetiva, afirmando não haver evidências de riscos para a saúde associados aos telemóveis e às redes wireless.


A minha perspetiva é que mais vale prevenir do que remediar. Outro dos recursos que recomendo, mas sobretudo relativamente aos telemóveis e não tanto às redes wireless é o Environmental Working Group’s Guide to Cell Phone Use.


Já após o envio da resposta e numa pesquisa sobre o tema, encontrei um excelente recurso que recomendo a todos quantos se possam interessar pelo tema. Trata-se do Projecto monIT, uma iniciativa em curso no Instituto de Telecomunicações / Instituto Superior Técnico, que tem como objetivo disponibilizar publicamente informações relevantes sobre radiação eletromagnética em comunicações móveis. Recomendo vivamente a visita ao site que disponibiliza um vasto manancial de informação. No âmbito da sua actividade, esta iniciativa revelou há cerca de um ano e meio que em Portugal as radiações móveis se encontravam mais de 100 vezes abaixo do limite. A notícia adiantava que “nos locais ‘mais sensíveis’, como escolas e hospitais, os valores médios encontram-se cerca de 1.200 vezes abaixo dos limites”.

 

Neste contexto, acrescente-se ainda que existe legislação em Portugal que regula os níveis de radiação eletromagnética, como informa o monIT.

 

A terminar uma última nota: quando digo que mais vale prevenir do que remediar, tal não passa por banir os aparelhos que produzem radiações eletromagnéticas, mas seguir as recomendações fornecidas na documentação acima referida que visam minimizar eventuais efeitos nocivos das mesmas.

 


 

Redes Sociais: Relações Entre Professores & Estudantes

Tito de Morais, 01.09.08

Em meados de Agosto, a secção de tecnologia do site da CNN publicou um artigo extremamente interessante intitulado "Online student-teacher friendships can be tricky" e que nos deve fazer reflectir.

 

O artigo começa por referir o facto de alguns professores usarem sites de redes sociais como o MySpace como forma de os ajudar a comunicar com os seus estudantes sobre trabalhos de casa, explicações e outros assuntos escolares. O artigo conta a história de um professor de 52 anos que criou um perfil no MySpace e começou a receber mensagens de alunos seus a pedirem para o adicionarem como amigo e enviar-lhe questões sobre trabalhos escolares. Segundo este professor de Inglês, "o simples facto de eu estar no MySpace fá-los pensar 'Bem, talvez possamos falar com este tipo e abrir linhas de comunicação'.

 

Curiosamente, quando lancei os workshops "hi5ParaPais", fui positivamente surpreendido pelo interesse de muitos professores em tirar partido do entusiasmo dos seus alunos pelo hi5 e aprender a usar o hi5 numa perspectiva pedagógica de que são exemplo os seguintes comentários, sobre o que gostariam de aprender:

  • "Novas formas de comunicar com os meus alunos de lhes passar e transmitir informações úteis, de forma a eles terem comportamentos seguros na Internet"
  • "Sou mãe mas também professora, por isso gostava que este assunto fosse abordada nestes dois aspectos: como pais e também como educadores / professores. Acho uma iniciativa necessária e muitíssimo útil."
  • "Como interagir e supervisionar os nossos filhos/alunos na sua utilização deste tipo de tecnologias."
  • "Utilizar o hi5 com segurança;tirar partido pedagógico do hi5; saber mais sobre o hi5."
  • "Como professora de informática, e apesar de estar sempre a tentar incutir nos meus alunos os perigos da exposição pessoal na net, tenho a certesa que alguns não me ouvem e que ainda fazem pior... Como falar com os alunos, como alertar os pais, para este perigo real?"
  • "Sou educadora, deixo ao seu critério os conteúdos pois todos serão válidos para eu poder partilhar com os pais dos meus alunos e colegas."

No entanto, o artigo refere que algumas pessoas receiam que os sites de redes sociais alimentem relações impróprias entre professores e alunos. Esta preocupação tem-se manifestado particularmente no Missouri, nos Estados Unidos, onde uma série de casos de relacionamentos sexuais entre professores e alunos despoletou um ataque aos relacionamentos entre professores e alunos. O artigo da CNN refere mesmo o caso de um site que regista os casos de professores disciplinados, presos ou condenados por comportamentos impróprios com alunos.

 

Perante estas preocupações, um legislador do Missouri está a patrocinar um lei que se propõe proibir os professores do ensino básico de manterem amizades com os seus alunos em sites de redes sociais. A isto, segundo o artigo da CNN, acresce que algumas escolas, sindicatos de professores e associações de pais e professores um pouco por todo o país estão a redigir políticas e a emitir conselhos sobre que tipo de relações online ou mensagens SMS são aceitáveis.

 

A isto, os professores respondem que os predadores continuarão a aproximar-se das crianças, mesmo que os relacionamentos online sejam proibidos. De facto, algumas destas medidas parecem-me casos típicos de "incendiar a aldeia para assar o leitão". Como refere um professor no artigo da CNN, quando já é tão difícil ajudar alguns miúdos, não se percebe que se tirem aos professores o acesso a ferramentas que têm ao seu dispor que lhes permitem fazer a diferença.

 

Segundo um jurista educacional citado no artigo, existe uma linha de demarcação entre professores e alunos e essa é uma linha da qual não se convém aproximar e muito menos pisar, aconselhando os professores afirmar desde o primeiro dia: "eu não sou vosso colega; eu não sou vosso amigo; eu sou só o vosso professor". Este jurista concorda que por vezes os professores precisam de comunicar com os seus estudantes depois das aulas, mas acrescenta que para esse efeito dispõem dos sites das suas escolas, eliminando assim a necessidade de utilização do Facebook, MySpace e similares, permitindo simultâneamente a possibilidade de monitorização de todas as comunicações estudante-professor.

 

Este ponto de vista parece-me excessivo e vindo de alguém que desconhece as funcionalidades limitadas disponibilizadas pela generalidade dos websites escolares. Até porque, como refere uma aluna no artigo, apesar dos professores disporem de páginas nos websites das suas escolas, a maioria dos estudantes raramente as visita.

 

Nesse sentido, estou com o professor citado no artigo que lamenta esta visão "maléfica" das tecnologias. Este professor alerta ainda para o facto da profissão, como outras que facilitam o contacto com crianças e jovens, atrair por vezes pessoas indesejáveis. Ou seja, não faz sentido que em vez de se preocuparem em lidar com este problema, afastando essas pessoas da profissão, as autoridades pretendam impedir os professores que não causam problemas de poderem ajudar algumas das crianças e jovens que mais precisam dessa ajuda.

 

Felizmente, esta não é uma voz solitária, havendo outras vozes com bom senso a pronunciar-se sobre o assunto, como é o caso do artigo "Legislating Teachers' Behavior Online". Por outro lado, os comentários no artigo no site da CNN são também uma leitura interessante, com alguns professores a relatarem as suas experiências. No entanto, como acontece sempre neste tipo de debates, algumas das opiniões expressas, deixam muito a desejar. Pelo menos em minha opinião.

 

A terminar, deixo a minha reflexão. A ausência ou fraco debate deste tipo de assuntos é o que, quandos os problemas surgem, a tendência seja para o surgimento de "soluções" extremistas. Este é assim um tema sobre o qual era importante a criação de orientações por parte das associações pais e professores, sindicatos, direcções regionais de educação e até pelo próprio Ministério. Isto porque, estou totalmente de acordo com o autor do artigo "Legislating Teachers' Behavior Online" quando este afirma que é necessário encontrar uma solução de meio-termo, entre proteger as crianças de predadores e permitir que as crianças possam contactar e estabelecer relações com as pessoas que podem fazer a diferença nas suas vidas de uma forma positiva. Proibir liminarmente os contactos entre professores e alunos não é solução. Concordo. Mas se este debate não se fizer, estaremos a dar azo a que surjam os bem intencionados com soluções extremistas e que tomam as decisões que outros se abstêm de tomar pela sua falta de debate.

 

Gostava de ouvir a opinião de pais, alunos e professores sobre este assunto, pedindo-lhe que use os comentários para o efeito.